Em dois meses, desapareceram 14 dos 31 quadros da exposição "Coming Out", que o Museu Nacional de Arte Antiga espalhou pela Baixa de Lisboa. O "Retrato do Conde de Farrobo", o "São Damião", o "Retrato do Senhor de Noirmont" e "Conversação" estão entre as réplicas furtadas, mas estas quatro continuam à vista de todos. Só que agora é preciso atravessar o rio Tejo para vê-las. "Não é um roubo, é um deslocamento", diz ao Observador um dos autores do desvio. O quadro mais difícil de furtar não foi o primeiro, o "São Damião" de Bartolomé Bermejo, na Travessa dos Teatros. "São Damião" tem 1,65 metros de altura. Os dois rapazes esperaram pelas quatro da manhã e levaram um escadote, porque não chegavam aos parafusos superiores. "Foi à justa que coube no carro", conta. O objetivo do furto estava traçado desde o início: colocá-lo perto de casa, num bairro entre o Laranjeiro (Almada) e Miratejo (Seixal). "Gostámos muito da atividade do museu e achámos que devia ser alargado a outros sítios". Quem também parece ter gostado foram os moradores do bairro situado junto da Avenida Professor Rui Luís Gomes, que no dia 27 de novembro começaram a reparar na novidade. "Ninguém tentou levar nem vandalizar, está intacto. Há pessoas que disseram que era o quadro mais bonito que já tinham visto", conta o autor da mudança, que considera que, ali, a pintura "ganha outra magnitude".
A receção dos moradores foi tão boa que os dois começaram a imaginar mais obras de arte por ali. "Não no mesmo prédio mas no Largo. Fazer uma espécie de galeria para a comunidade", conta. Novamente de madrugada, foram ao Largo do Picadeiro buscar o "Retrato do Conde de Farrobo", cujo original foi pintado por Domingos António de Sequeira. "Conversação" foi tirado há poucos dias da entrada da Rua da Rosa. O mais arriscado terá sido o "Retrato do Senhor de Noirmont", não só porque tem 1,38 metros de altura mas também porque foi tirado "nas barbas da polícia", admite, já que o quadro estava pendurado na parede da esquadra da PSP da Rua Capelo. Desde que o MNAA começou a exposição já desapareceram 14 réplicas. Pela mão do 'Robin das Artes', não deverá desaparecer mais nenhuma. "Já passámos a ideia. Até porque já não temos como tirar os outros [risos]". Como último desejo, gostava que os quatro quadros "levassem gente de fora ao bairro" para os ver, tal como acontece no Chiado.
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