(José Pedro Teixeira Fernandes no Público)
A globalização está a transformar profundamente as sociedades europeias. Trouxe fluxos humanos com uma magnitude e intensidade sem precedentes, de pessoas. Na União Europeia, são os países mais ricos — e, dentro destes, as grandes cidades —, que atraem a sua larga maioria. É um fenómeno essencialmente das grandes cidades dos países ricos, que se desligaram do resto do país nessas transformações. Esta clivagem económica e cultural, mas também espacial, está a ter consequências políticas largamente subestimadas. A Europa antes expandia-se continuamente para o exterior. Não existiam fluxos de migrações em massa dirigidos às suas grandes cidades. Existe agora uma fragmentação da população em comunidades étnicas, religiosas ou culturais, que não se identificam umas com as outras.
A União Europeia pode ter perdido o Reino Unido no referendo, mas foi Londres quem perdeu a Inglaterra. As massas inglesas não seguiram as recomendações da elite política, económica e cultural que as governa. O problema é que Londres já não é a sua cidade. Nem a riqueza, nem a cultura são as suas. Para muitos ingleses, Londres tornou-se estranha. Os símbolos da sua identidade estão lá, podem encontrar-se nos monumentos e museus, nas ruas e praças. Mas não é uma identidade vivida pela maioria dos que a habitam. A língua, cada vez menos, é o seu inglês. Não é o inglês das classes cultas e elitista, que menospreza o inglês popular, a causa do seu incómodo. Essa clivagem é-lhes familiar. É o desconforto face a um inglês internacional, com múltiplas pronúncias, sotaques estranhos, eventualmente incompreensível. Os ingleses abandonam Londres. Aceitam mal que a antiga capital imperial — hoje uma imagem invertida do império colonial —, lhes diga como deve ser o seu futuro. É um misto de nostalgia do passado e ressentimento face à insegurança e iniquidade do presente.
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