(transcrito de portugalferroviario.net, trainmaniac)
Mais uma semana e mais uma notícia de expansões no Metro de Lisboa: o Governo aparentemente vai apresentar em breve a extensão da linha amarela do Rato até ao Cais do Sodré, com estações na Estrela e em Santos. Esta expansão parece ter ganho à linha de Cascais, apesar desta se debater com problemas operacionais claros de há muito a esta parte. Não consigo deixar de estranhar que o mesmo Governo que assume no Parlamento não ter intervenções previstas para a linha de Cascais pelos meios financeiros necessários possa, alegremente, anunciar mais algumas centenas de milhões de Euros para o Metro de Lisboa, que nem capacidade está a ter de assegurar um serviço minimamente civilizado na rede que já existe.
Está quase a fazer 10 anos o último projeto de desnivelamento do Nó Ferroviário de Alcântara, um engulho centenário na mobilidade lisboeta e no serviço da linha de Cascais. Agora que parece ter sido descoberto financiamento para mais uma obra muito cara ao serviço dos transportes públicos julgo que seria muito mais útil investir em algo que já existe e que se arrisca a deixar de poder realizar o seu objetivo por dificuldades operacionais. Além disso, o potencial que a integração da linha de Cascais no resto da rede tem para promover transferência modal da viatura particular para os comboios é imensamente superior à de um investimento num troço de metro interno à cidade de Lisboa. Associado à necessária renovação da linha e seus comboios, com possível reeletrificação para total harmonização com o resto da rede, este projeto de 2007 é de prioridade máxima numa perspetiva racional de intervenção na mobilidade na área da Grande Lisboa. É pouco compreensível que o Governo Central se continue a entreter com novas obras faraónicas no Metro de Lisboa quando há algo desta prioridade em stand-by há tanto tempo.
Se existirem realmente meios para intervir nas infraestruturas de transportes públicos da Grande Lisboa, é incompreensível que não se dê total prioridade ao estado de degradação da linha de Cascais e às ferramentas que esta necessita para se atualizar e se inserir nas dinâmicas de mobilidade que nem sequer são recentes: a deslocalização do centro de gravidade de Lisboa para a zona de Sete Rios, Entrecampos ou Oriente não é sequer uma tendência recente. A linha de Cascais é, neste aspeto, uma sobrevivente de paradigmas de mobilidade antigos e já pouco representativos. Penso que é esta reflexão que é urgente ser feita. No Governo, na Assembleia da República mas também na AML e na sociedade civil, em geral. Mais importante do que pequenas realidades é a o panorama geral da mobilidade na Grande Lisboa. E nessa óptica é evidente que a urgência da linha de Cascais e da sua ligação à linha de Cintura ultrapassam, em pertinência social e económica, qualquer outro projeto que possa ser apresentado para o Metro de Lisboa. Que o bom senso impere, por uma vez.
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