Estamos nas vésperas da Revolução: Voltaire não a sonha, mas pressente-a; não a deseja, mas prepara-a.
Entre 2007 e 2016 477 mil pessoas pediram a nacionalidade portuguesa e mais de 400 mil cidadãos tornaram-se portugueses. Entre os países da União Europeia, Portugal vem em segundo lugar no "rácio de aquisições de nacionalidade por total de residentes estrangeiros", logo a seguir à Suécia. As alterações legislativas para a concessão da nacionalidade feitas nas duas últimas décadas muito contribuíram para tal. As políticas e enquadramentos legais portuguesas têm sido consideradas inovadoras ao conciliar critérios de nascimento, descendência, residência, a opção voluntária para o pedido de nacionalidade e o papel que os imigrantes requerentes podem assumir para a demografia de um país naturalmente envelhecido. No ano de 1996 houve 3700 concessões de nacionalidade portuguesa mas em 2016 esse número ascendeu a 50.793 de acordo com o Observatório das Migrações.
Nasci em Portugal. Educaram-me a História de Portugal. Falo Português. Tenho um cartão de cidadão e um passaporte que dizem que eu sou Português. Mas isso basta? Que Cultura, História, Valores, Moral, partilho com os meus concidadãos, novos e antigos? Não os conheço, eles não me conhecem. Devo Ser como eles ou eles Serem como eu? Ambos somos Portugueses, mas quem define o que é a Portugalidade?
É certo que o fenómeno é Europeu, e Portugal apenas foi a reboque, como em muitas outras épocas, do que o que se faz para lá dos Pirenéus. A nação foi descredibilizada em termos intelectuais e políticos, especialmente a partir dos anos 1980. Não era uma comunidade com genuína existência real. Era uma mera construção social, uma "comunidade imaginada". A sua dissolução em sociedades multiculturais, o mais possível diversas, tornou-se o novo ideal de perfeição e modelo de coexistência pacífica no Ocidente europeu. Não é um processo linear e contínuo, mas é a tendência que marca a transformação social e política da Europa no longo prazo. O mais complexo é a crescente heterogeneidade de Estados e sociedades que, num passado recente, eram bastante homogéneos em termos de grupo nacional. O afrouxamento dos laços nacionais deixou fundamentalmente um espaço vazio. Poucos se sentem genuinamente unidos por um europeísmo ou cosmopolitismo. Menos ainda estariam dispostos a sacrificar a sua vida por tais ideais. No território das grandes nações europeias surgiram então novos grupos culturais frequentemente acantonados em guetos, de dimensão e número (ainda) desconhecido. É algo demasiado evidente nas grandes metrópoles europeias: populações que se ignoram, ou conflituam culturalmente, pois não partilham os valores mais profundos que alicerçam a cidadania.
Mas o que é Tudo, no final, é Nada.
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